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O PROJETO DE PESQUISA CONVERSA DE PROFESSOR

 

O Projeto de Pesquisa Conversa de Professor (COP 250), desenvolvido desde 2016, está ligado ao grupo de pesquisa Formação de Professores, Linguagens e Justiça Social - PROFJUS e configura um coletivo interinstitucional que reúne professores do ensino superior e da educação básica, alunos da licenciatura em Letras e estudantes de pós-graduação.

 Os encontros de estudos e as práticas desse coletivo têm como território o CIEP Brizolão 250 Municipalizado Rosendo Rica Marcos (CIEP 250). Nossa pesquisa nasceu e vem se construindo no chão dessa escola pública, a partir da inquietação diante de problemas que afetam nossa identidade docente, por isso a investigação-ação decorre da necessidade não somente de resistirmos, mas também de nos reinventarmos nesse contexto adverso.

O grupo enfrentou muitas mudanças internas e contextuais desde 2016, as quais contribuíram para a consolidação de algumas práticas que o caracterizam. Trata-se de um movimento longo e complexo de engajamento mútuo que produziu uma história compartilhada de aprendizado (WENGER, 2008, p. 86. Trad. nossa)[1].

Os propósitos do grupo são:

  • Construir, através do diálogo e do trabalho coletivo, práticas situadas de alfabetização e o letramento com crianças em situação de vulnerabilidade social, numa abordagem pautada pela valorização da diversidade e pela ênfase nas práticas socioculturais locais, na abertura de horizontes e na reflexão crítica.

  • Desenvolver um projeto de autoformação docente na perspectiva da educação para a justiça social.

 

No grupo de pesquisa Conversa de Professor, as discussões partem de questões levantadas pelo coletivo, buscando-se o estabelecimento de relações horizontais entre todos os participantes. Entendemos que a cooperação e o diálogo são axiais no percurso de aprendizagem de todos e todas na comunidade de prática desse coletivo, que reúne “pessoas que compartilham uma preocupação ou uma paixão por algo que elas fazem e aprendem como fazê-lo melhor à medida que interagem regularmente” [2](WENGER, 2011, p.  1. tradução nossa)

Dando sequência à história de aprendizagens do grupo, durante a reunião de encerramento das atividades do ano de 2018, os participantes do grupo de pesquisa refletiram sobre a temática que deveria ser abordada em 2019.

No início das discussões acerca do projeto de estudos e práticas proposto para 2019, partimos de três questões elaboradas por Leonardo Boff (2014), que apresentamos abaixo, com as respostas dadas pelos participantes da primeira reunião de trabalho (Abril/2019):

 

1ª Pergunta: Que tipo de mundo desejamos construir?

Respostas: acolhedor, igualitário, respeitador, que possua equidade, mais humano, nos tornarmos uma família humana, com amor e muito cuidado, solidário.

 

2ª Pergunta: Que tipo de sociedade desejamos formar?

Respostas: esperançosa, igualitária, justa, solidária, amorosa, mais amor.

 

3ª Pergunta: Que tipo de pessoa queremos formar?

Respostas: honesta, interessada, solidária, bondosa, amorosa, mais humana.

 

Diante dessas respostas, pode-se perceber que o grupo enfatiza os relacionamentos ancorados em uma ética do cuidado que pode ser compreendida na relação entre as três instâncias apontadas nas questões: o planeta, a sociedade, a pessoa. Pensando a primeira instância, o cuidado com o planeta em sua dimensão local, entendemos o CIEP 250 e seu entorno como um nicho ecológico que precisa ser cuidado para que os seres que nele circulam possam viver melhor. Na segunda instância, trata-se da relação com o Outro e da convivência com as diferenças que caracterizam o humano. Na terceira instância, trata-se do cuidado consigo.

 

2 - JUSTIFICATIVA

 

O problema inicial da pesquisa desenvolvida pelo COP250 eram as Dificuldades enfrentadas no aprendizado da leitura e da escrita pelos alunos que frequentam as séries iniciais do ensino fundamental do CIEP 250. Alo longo da pesquisa, fomos percebendo o quanto essas dificuldades estão ligadas a fatores socioculturais que ultrapassam os limites da escola.

  Uma desses fatores é o fato de que as crianças da localidade tendem a só perceber os fatores negativos que condicionam a vida da comunidade - que são muitos -  e, assim, não vislumbram um futuro de realizações pessoais como horizonte possível. Essa constatação vem sendo discutida pelo grupo desde 2016, pois o corpo docente do CIEP 250 percebe que muitos estudantes apresentam baixa autoestima e sentem-se desencorajados e demonstram que o estudo não tem sentido em suas vidas. A reflexão sobre esse problema nos levou a buscar formas de resgatar a autoestima dos estudantes a partir de atividades que valorizem sua identidade, em articulação com território e o tempo em que vivem, realizando uma ação de contraposição  ao pensamento de fatalidade e de permanência nas precariedades que os circundam.

Nesse sentido, ainda em 2016, realizamos o projeto “Cor de gente é a nossa cor” que enfatizou a afirmação da identidade das crianças afro descentes e oriundas de outras minorias, a baixa autoestima das crianças negras que é decorrente da maneira como a sociedade reproduz historicamente o processo de dominação e de exclusão dos afrodescendentes e silencia a discussão acerca da opressão sociocultural e econômica vivenciada por essa enorme parcela da população e constitui um fator de grande impacto no sucesso escolar.

Em 2017, aprofundando a relação com o território e as identidades dos sujeitos que circulam no CIEP 250, o projeto “Rosendo, porto aberto para o mundo”, o qual buscou resgatar a história e as histórias do bairro do Gradim, tomando como ponto de partida o patrono do CIEP Rosendo Rica Marcos para ampliar a perspectiva dos estudantes, do olhar voltado para o entorno do CIEP à percepção de seu lugar no mundo, abrindo horizontes e estimulando a reflexão.

Em 2018, como um desdobramento das ações realizadas, foram implantadas Oficinas de Letramentos mediadas por estudantes de graduação em Letras da FFP/UERJ. Essa oficinas, que atendem semanalmente a pequenos grupos, organizam-se em torno de histórias infantis e buscam contribuir para que os estudantes reflitam sobre a solidariedade, o respeito às diferenças, a equidade e a justiça social, anunciando a possibilidade de outras formas de convivência democrática. Além disso, através de jogos didáticos e estratégias de sistematização do sistema alfabético, colaboram no processo de alfabetização das crianças que apresentam maiores dificuldades de aprendizagem

Para o biênio 2019-2020, projetamos um projeto integrador relacionado às pessoas e ao espaço físico da escola, empregando uma metodologia interdisciplinar, centrada na análise de situações-problema que possam ser alteradas mediante a atuação e parceria entre estudantes, professores, pais e comunidade, no sentido de buscar soluções para os problemas diagnosticados e pensar em alternativas de futuro.

A atitude de cuidar é muito presente no cotidiano das participantes do grupo, por isso buscamos uma concepção filosófica e uma concepção educacional que pudessem ancorar nossas discussões e nossas práticas ao longo do projeto. Procuraremos trabalhar em três instâncias: cuidar de si mesmo, cuidar do outro e cuidar do planeta.

Destacamos, ainda, que a abordagem temática selecionada está de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino fundamental, a qual prevê nos itens 8 e 9 do tópico As Competências Gerais para a Educação Básica:

 

8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. (BRASIL, 2017, p.10)

 

 

[1] No original: From this perspective, communities of practice can be thought of as shared histories of learning.

[2]No original: Communities of practice are groups of people who share a concern or a passion for something they do and learn how to do it better as they interact regularly.

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